A Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) e o Engajamento na Escola Bíblica Dominical (EBD): Uma Proposta Metodológica para o Ensino de Textos Bíblicos a Jovens (15-25 anos)

A Escola Bíblica Dominical (EBD), espaço tradicional de formação teológica, enfrenta desafios significativos no engajamento de jovens e adolescentes (15-25 anos), manifestados por apatia, desinteresse e comportamentos disruptivos. Este artigo argumenta que tais comportamentos não podem ser interpretados apenas como desinteresse espiritual ou rebeldia, mas devem ser analisados à luz do perfil cognitivo da sociedade contemporânea. Utiliza-se como referencial teórico a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA), um constructo proposto por Augusto Cury e analisado nos documentos de referência, que descreve um estado de ansiedade crônica e esgotamento mental decorrente do excesso de informações e estímulos. O objetivo deste trabalho é analisar como a SPA impacta o aprendizado em ambientes de ensino tradicionais, como a EBD, e propor uma metodologia pedagógica analógica (não digital) focada na gestão da atenção e no engajamento para o estudo de textos bíblicos densos, como os livros proféticos e os Salmos. A proposta centra-se na substituição do modelo expositivo linear por uma "Pedagogia da Fragmentação Focada", utilizando técnicas socráticas e de registro cognitivo para alinhar o conteúdo bíblico às "ruminações mentais" e necessidades emocionais dos alunos. Palavras-chave: Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA); Educação Cristã; Escola Bíblica Dominical (EBD); Engajamento de Jovens; Metodologia de Ensino; Ruminação Mental.

EDUCAÇÃO CRISTÃ

José Weider P. Queiroz

11/6/202515 min ler

A Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) e o Engajamento na Escola Bíblica Dominical (EBD): Uma Proposta Metodológica para o Ensino de Textos Bíblicos a Jovens (15-25 anos)

Resumo

A Escola Bíblica Dominical (EBD), espaço tradicional de formação teológica, enfrenta desafios significativos no engajamento de jovens e adolescentes (15-25 anos), manifestados por apatia, desinteresse e comportamentos disruptivos. Este artigo argumenta que tais comportamentos não podem ser interpretados apenas como desinteresse espiritual ou rebeldia, mas devem ser analisados à luz do perfil cognitivo da sociedade contemporânea. Utiliza-se como referencial teórico a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA), um constructo proposto por Augusto Cury e analisado nos documentos de referência, que descreve um estado de ansiedade crônica e esgotamento mental decorrente do excesso de informações e estímulos. O objetivo deste trabalho é analisar como a SPA impacta o aprendizado em ambientes de ensino tradicionais, como a EBD, e propor uma metodologia pedagógica analógica (não digital) focada na gestão da atenção e no engajamento para o estudo de textos bíblicos densos, como os livros proféticos e os Salmos. A proposta centra-se na substituição do modelo expositivo linear por uma "Pedagogia da Fragmentação Focada", utilizando técnicas socráticas e de registro cognitivo para alinhar o conteúdo bíblico às "ruminações mentais" e necessidades emocionais dos alunos.

1. Introdução

O desafio de manter o engajamento de adolescentes e jovens (faixa etária de 15 a 25 anos) na Escola Bíblica Dominical (EBD) é uma preocupação constante para lideranças e educadores cristãos. O cenário comum em muitas salas de aula oscila entre dois polos: a apatia e o comportamento disruptivo (conversas paralelas, uso velado de smartphones). Historicamente, tais comportamentos são atribuídos a fatores de desinteresse temático ou conflitos geracionais.

Contudo, este artigo propõe uma tese alternativa: o formato pedagógico tradicional da EBD — linear, expositivo e focado em conteúdo denso — entrou em conflito direto com o perfil cognitivo do aluno contemporâneo. A sociedade moderna, caracterizada pela hiperestimulação digital e excesso de informação, fomentou o que Augusto Cury denominou de Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA).

A SPA, considerada um sintoma social, descreve um cérebro que, para lidar com o volume de dados, opera em alta velocidade, resultando em esgotamento mental, dificuldade de concentração, déficit de memória, impaciência e ansiedade crônica. Alunos afetados pela SPA não apenas não querem, eles frequentemente não conseguem manter o foco em uma exposição linear por longos períodos.

O problema se agrava quando o objeto de estudo são textos bíblicos complexos, como as profecias de Jeremias ou a profundidade poética dos Salmos, em um ambiente restrito a recursos tradicionais (quadro e voz). O objetivo deste estudo é, portanto, analisar a SPA como um fator pedagógico e propor uma metodologia de ensino analógica, que utilize as limitações do ambiente tradicional como uma vantagem estratégica para gerenciar a atenção e as "ruminações mentais" dos alunos.

2. Fundamentação Teórica

2.1 A SPA e a Mente Ruminante do Aluno

A SPA é descrita como um dos "males do século", uma "doença coletiva" causada não por um fator genético, mas pelo "excesso de informação" e pela "hiperestimulação". O cérebro, na tentativa de processar tudo, "satura" sua Memória de Uso Contínuo (MUC).

Esse estado de saturação gera dois comportamentos opostos, ambos visíveis na sala de EBD:

  1. Apatia (Exaustão): O cérebro, esgotado, "usa mecanismos instintivos que bloqueiam as janelas da memória na tentativa de que pensemos menos e poupemos mais energia". O aluno apático não está desinteressado; ele está em modo de "economia de energia" cognitiva.

  2. Agitação (Ansiedade): A mente hiperacelerada torna o aluno impaciente. A incapacidade de focar em um estímulo lento (a aula expositiva) gera ansiedade, que, por sua vez, busca alívio em novos estímulos (conversar, mexer no celular). É uma "questão de sobrevivência" para aliviar a tensão interna.

Um dos artigos analisados conecta diretamente a SPA de Cury à Ruminação Mental , definida como a repetição de "pensenes patológicos" ou pensamentos em um "circuito fechado de memórias". A ruminação ocorre quando o "gatilho da memória" ativa uma "janela killer" — uma memória ou pensamento com conteúdo emocional angustiante.

No contexto da EBD, o gatilho pode ser o próprio tédio da aula. A mente do aluno (15-25 anos), já cheia de ruminações sobre provas, relacionamentos e futuro, é colocada em um ambiente que não compete com os estímulos externos. A aula se torna o gatilho que intensifica a ruminação interna, levando o aluno a se fechar (apatia) ou buscar distração (mau comportamento).

2.2 O Desafio Pedagógico: Textos Densos e Recursos Analógicos

O professor de EBD se vê em uma "competição" desigual. Ele precisa ensinar Jeremias — um texto sobre julgamento, vocação e sofrimento — para uma mente que "detesta a rotina" e cuja concentração é flutuante.

A faixa etária de 15 a 25 anos está no auge do desenvolvimento do pensamento abstrato, mas também da formação de identidade. Eles não buscam apenas informação; buscam significado. O ensino tradicional, focado na transmissão de fatos históricos ou doutrinas de forma linear, falha em conectar-se com a "janela" de relevância do aluno.

3. Proposta Metodológica: Pedagogia da Fragmentação Focada (PFF)

Para ensinar em um contexto de SPA e recursos tradicionais, o professor deve abandonar a meta de "cobrir o capítulo" e adotar a meta de "conectar o fragmento". A PFF é uma abordagem analógica que gerencia a ansiedade e a exaustão através da estrutura da aula.

Estratégia 1: O "Check-in" Cognitivo (O Esvaziar da Mente)

  • Problema: Alunos chegam à EBD mentalmente saturados, ruminando sobre a semana.

  • Técnica: Distribuir pequenos pedaços de papel (fichas pautadas). Pedir que os alunos, em 3 minutos de silêncio, respondam anonimamente: "Quais os 3 pensamentos ou preocupações que mais estão 'gritando' na sua mente agora?".

  • Fundamentação (TCC/SPA): Esta é uma aplicação pedagógica do "Registro de Pensamentos" da TCC, alinhada à necessidade de "assumir a dor... revê-los por outros ângulos, reescrevendo as janelas". Ao escrever, o aluno "tira" o pensamento do "circuito fechado" e abre espaço cognitivo para a aula. O professor pode recolher os papéis (sem ler) e dizer: "Vamos deixar isso de lado por 40 minutos e focar em algo novo".

Estratégia 2: A Micro-Lição Socrática (Ensinando Jeremias e Salmos)

  • Problema: Um capítulo inteiro de Jeremias é extenso e intimidador para uma mente ansiosa.

  • Técnica: Fragmentar o texto ao máximo. O professor seleciona um versículo-chave (ex: Jeremias 1:6) e o escreve no quadro.

  • Fundamentação (TCC): Em vez de explicar o versículo, o professor usa o Questionamento Socrático (pilar da TCC, como visto na análise de Jeremias 1 na interação anterior).

    • Texto no Quadro: "Ah, Soberano Senhor! Eu não sei falar, pois ainda sou muito jovem." (Jeremias 1:6)

    • Perguntas Socráticas:

      1. Qual é o "Pensamento Automático" de Jeremias aqui? (Ex: "Eu sou incapaz", "Vou falhar").

      2. Qual a "Crença Nuclear" dele? (Ex: "Eu sou inadequado" [Categoria: Desamparo]).

      3. Deixando a Bíblia de lado: quem aqui já teve esse exato pensamento esta semana no trabalho ou na faculdade?

  • Resultado: O professor conecta a "janela killer" de Jeremias (seu medo e inadequação) diretamente à ruminação de inadequação do aluno de 20 anos. O texto antigo ganha relevância imediata.

Estratégia 3: O "Giro de Rotação" (Gerenciando a Impaciência)

  • Problema: A mente com SPA precisa de novos estímulos. A apatia e a agitação aumentam após 10-15 minutos de uma única atividade.

  • Técnica: Usar "estações de atividade" analógicas. A aula de 45 minutos é dividida em 3 blocos de 15 minutos, mudando o método de interação com o texto.

  • Exemplo (Estudo de um Salmo):

    1. Min 1-15 (Individual/Silêncio): Leitura individual do Salmo. Alunos devem circular a única palavra ou frase que mais lhes chamou atenção. (Respeita o exausto/apático).

    2. Min 15-30 (Grupo Pequeno): Em trios (sem sair do lugar), alunos compartilham suas palavras e tentam definir o "sentimento" principal do Salmo em uma frase. (Atende o agitado/social).

    3. Min 30-45 (Coletivo/Aplicação): O professor usa o quadro para listar os "sentimentos" e faz a Micro-Lição Socrática (Estratégia 2), conectando o sentimento do Salmo ao "Check-in" Cognitivo do início da aula.

Estratégia 4: A Aplicação da "Reconciliação Mnemônica"

  • Problema: O aluno está preso em ruminações de culpa, injustiça ou medo (temas centrais em Jeremias e Salmos).

  • Técnica: O artigo "Compreensão e Reciclagem das Ruminações Mentais" propõe uma técnica de 8 passos . O professor pode usar uma versão simplificada como ferramenta de aplicação do texto bíblico.

  • Fundamentação: A técnica visa "reescrever a janela de memória killer para que passe a ser uma janela light".

  • Exemplo (Salmo de Arrependimento ou Lamento):

    1. Recordação (Passo 1): "Pense na 'memória killer' que está causando sua ruminação (culpa, ansiedade)."

    2. Visão Multifocal (Passo 2): "Como o texto bíblico (o Salmo) enxerga essa situação? Como Deus enxerga? Como a outra pessoa enxerga?"

    3. Maxifraternismo/Assistência (Passos 6 e 8): "Qual é o 'plano de ação' que o Salmo sugere? (Confessar, perdoar, esperar, agir)."

  • Resultado: A EBD deixa de ser uma aula sobre um texto antigo e se torna um laboratório para a "gestão de si" , usando a Bíblia como ferramenta para "reciclar" as angústias reais do aluno.

4. Considerações Finais

O diagnóstico de apatia e mau comportamento na EBD de jovens (15-25 anos) é frequentemente incompleto. A Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) e as "ruminações mentais" associadas são fatores pedagógicos cruciais, resultantes de uma "sociedade patologizante" baseada no excesso de informação.

O professor de EBD, mesmo restrito a recursos tradicionais, está posicionado de forma única. Ao adotar uma Pedagogia da Fragmentação Focada (PFF), ele para de lutar contra a mente ansiosa do aluno e passa a usar a estrutura da aula para gerenciá-la.

Ao "educar a emoção" e "desacelerar" o pensamento através de fragmentos socráticos e aplicação prática (como a Reconciliação Mnemônica ), o professor transforma a aula. O estudo de Jeremias ou Salmos deixa de ser uma causa de ansiedade (por tédio) e torna-se a própria ferramenta para lidar com a ansiedade da vida real, gerando engajamento profundo onde antes havia apenas apatia e agitação.

5. Referências

  • GARCIA, Adriano Fontoura. EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM AMBIENTES ESCOLARES: A SÍNDROME DO PENSAMENTO ACELERADO. 2017. 55 f.. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade do Vale do Rio dos Sinos , Porto Alegre, 2017.

    GUTH, Clarissa de Moraes; VEIT, Carlos Alberto. ANSIEDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO E SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO. Revista Educação, Psicologia e Interfaces , v. 3, n. 2, p. 57-68 , Maio/Agosto, 2019. DOI: https://doi.org/10.37444/issn-2594-5343.v3i2.139.

    MACHADO, Dimitrius Gonçalves. O indisciplinado patológico em Augusto Cury: uma análise da discursividade de autoajuda para educadores. Revista Heterotópica , v. 3, n. 2, jul.-dez. 2021.

    ULAF, Marcos. Compreensão e Reciclagem das Ruminações Mentais. Conscientia , v. 19, n. 4, p. 435-443 , out./dez., 2015.

A Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) e o Engajamento na Escola Bíblica Dominical (EBD): Uma Proposta Metodológica para o Ensino de Textos Bíblicos a Jovens (15-25 anos)

Resumo

A Escola Bíblica Dominical (EBD), espaço tradicional de formação teológica, enfrenta desafios significativos no engajamento de jovens e adolescentes (15-25 anos), manifestados por apatia, desinteresse e comportamentos disruptivos. Este artigo argumenta que tais comportamentos não podem ser interpretados apenas como desinteresse espiritual ou rebeldia, mas devem ser analisados à luz do perfil cognitivo da sociedade contemporânea. Utiliza-se como referencial teórico a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA), um constructo proposto por Augusto Cury e analisado nos documentos de referência, que descreve um estado de ansiedade crônica e esgotamento mental decorrente do excesso de informações e estímulos. O objetivo deste trabalho é analisar como a SPA impacta o aprendizado em ambientes de ensino tradicionais, como a EBD, e propor uma metodologia pedagógica analógica (não digital) focada na gestão da atenção e no engajamento para o estudo de textos bíblicos densos, como os livros proféticos e os Salmos. A proposta centra-se na substituição do modelo expositivo linear por uma "Pedagogia da Fragmentação Focada", utilizando técnicas socráticas e de registro cognitivo para alinhar o conteúdo bíblico às "ruminações mentais" e necessidades emocionais dos alunos.

1. Introdução

O desafio de manter o engajamento de adolescentes e jovens (faixa etária de 15 a 25 anos) na Escola Bíblica Dominical (EBD) é uma preocupação constante para lideranças e educadores cristãos. O cenário comum em muitas salas de aula oscila entre dois polos: a apatia e o comportamento disruptivo (conversas paralelas, uso velado de smartphones). Historicamente, tais comportamentos são atribuídos a fatores de desinteresse temático ou conflitos geracionais.

Contudo, este artigo propõe uma tese alternativa: o formato pedagógico tradicional da EBD — linear, expositivo e focado em conteúdo denso — entrou em conflito direto com o perfil cognitivo do aluno contemporâneo. A sociedade moderna, caracterizada pela hiperestimulação digital e excesso de informação, fomentou o que Augusto Cury denominou de Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA).

A SPA, considerada um sintoma social, descreve um cérebro que, para lidar com o volume de dados, opera em alta velocidade, resultando em esgotamento mental, dificuldade de concentração, déficit de memória, impaciência e ansiedade crônica. Alunos afetados pela SPA não apenas não querem, eles frequentemente não conseguem manter o foco em uma exposição linear por longos períodos.

O problema se agrava quando o objeto de estudo são textos bíblicos complexos, como as profecias de Jeremias ou a profundidade poética dos Salmos, em um ambiente restrito a recursos tradicionais (quadro e voz). O objetivo deste estudo é, portanto, analisar a SPA como um fator pedagógico e propor uma metodologia de ensino analógica, que utilize as limitações do ambiente tradicional como uma vantagem estratégica para gerenciar a atenção e as "ruminações mentais" dos alunos.

2. Fundamentação Teórica

2.1 A SPA e a Mente Ruminante do Aluno

A SPA é descrita como um dos "males do século", uma "doença coletiva" causada não por um fator genético, mas pelo "excesso de informação" e pela "hiperestimulação". O cérebro, na tentativa de processar tudo, "satura" sua Memória de Uso Contínuo (MUC).

Esse estado de saturação gera dois comportamentos opostos, ambos visíveis na sala de EBD:

  1. Apatia (Exaustão): O cérebro, esgotado, "usa mecanismos instintivos que bloqueiam as janelas da memória na tentativa de que pensemos menos e poupemos mais energia". O aluno apático não está desinteressado; ele está em modo de "economia de energia" cognitiva.

  2. Agitação (Ansiedade): A mente hiperacelerada torna o aluno impaciente. A incapacidade de focar em um estímulo lento (a aula expositiva) gera ansiedade, que, por sua vez, busca alívio em novos estímulos (conversar, mexer no celular). É uma "questão de sobrevivência" para aliviar a tensão interna.

Um dos artigos analisados conecta diretamente a SPA de Cury à Ruminação Mental , definida como a repetição de "pensenes patológicos" ou pensamentos em um "circuito fechado de memórias". A ruminação ocorre quando o "gatilho da memória" ativa uma "janela killer" — uma memória ou pensamento com conteúdo emocional angustiante.

No contexto da EBD, o gatilho pode ser o próprio tédio da aula. A mente do aluno (15-25 anos), já cheia de ruminações sobre provas, relacionamentos e futuro, é colocada em um ambiente que não compete com os estímulos externos. A aula se torna o gatilho que intensifica a ruminação interna, levando o aluno a se fechar (apatia) ou buscar distração (mau comportamento).

2.2 O Desafio Pedagógico: Textos Densos e Recursos Analógicos

O professor de EBD se vê em uma "competição" desigual. Ele precisa ensinar Jeremias — um texto sobre julgamento, vocação e sofrimento — para uma mente que "detesta a rotina" e cuja concentração é flutuante.

A faixa etária de 15 a 25 anos está no auge do desenvolvimento do pensamento abstrato, mas também da formação de identidade. Eles não buscam apenas informação; buscam significado. O ensino tradicional, focado na transmissão de fatos históricos ou doutrinas de forma linear, falha em conectar-se com a "janela" de relevância do aluno.

3. Proposta Metodológica: Pedagogia da Fragmentação Focada (PFF)

Para ensinar em um contexto de SPA e recursos tradicionais, o professor deve abandonar a meta de "cobrir o capítulo" e adotar a meta de "conectar o fragmento". A PFF é uma abordagem analógica que gerencia a ansiedade e a exaustão através da estrutura da aula.

Estratégia 1: O "Check-in" Cognitivo (O Esvaziar da Mente)

  • Problema: Alunos chegam à EBD mentalmente saturados, ruminando sobre a semana.

  • Técnica: Distribuir pequenos pedaços de papel (fichas pautadas). Pedir que os alunos, em 3 minutos de silêncio, respondam anonimamente: "Quais os 3 pensamentos ou preocupações que mais estão 'gritando' na sua mente agora?".

  • Fundamentação (TCC/SPA): Esta é uma aplicação pedagógica do "Registro de Pensamentos" da TCC, alinhada à necessidade de "assumir a dor... revê-los por outros ângulos, reescrevendo as janelas". Ao escrever, o aluno "tira" o pensamento do "circuito fechado" e abre espaço cognitivo para a aula. O professor pode recolher os papéis (sem ler) e dizer: "Vamos deixar isso de lado por 40 minutos e focar em algo novo".

Estratégia 2: A Micro-Lição Socrática (Ensinando Jeremias e Salmos)

  • Problema: Um capítulo inteiro de Jeremias é extenso e intimidador para uma mente ansiosa.

  • Técnica: Fragmentar o texto ao máximo. O professor seleciona um versículo-chave (ex: Jeremias 1:6) e o escreve no quadro.

  • Fundamentação (TCC): Em vez de explicar o versículo, o professor usa o Questionamento Socrático (pilar da TCC, como visto na análise de Jeremias 1 na interação anterior).

    • Texto no Quadro: "Ah, Soberano Senhor! Eu não sei falar, pois ainda sou muito jovem." (Jeremias 1:6)

    • Perguntas Socráticas:

      1. Qual é o "Pensamento Automático" de Jeremias aqui? (Ex: "Eu sou incapaz", "Vou falhar").

      2. Qual a "Crença Nuclear" dele? (Ex: "Eu sou inadequado" [Categoria: Desamparo]).

      3. Deixando a Bíblia de lado: quem aqui já teve esse exato pensamento esta semana no trabalho ou na faculdade?

  • Resultado: O professor conecta a "janela killer" de Jeremias (seu medo e inadequação) diretamente à ruminação de inadequação do aluno de 20 anos. O texto antigo ganha relevância imediata.

Estratégia 3: O "Giro de Rotação" (Gerenciando a Impaciência)

  • Problema: A mente com SPA precisa de novos estímulos. A apatia e a agitação aumentam após 10-15 minutos de uma única atividade.

  • Técnica: Usar "estações de atividade" analógicas. A aula de 45 minutos é dividida em 3 blocos de 15 minutos, mudando o método de interação com o texto.

  • Exemplo (Estudo de um Salmo):

    1. Min 1-15 (Individual/Silêncio): Leitura individual do Salmo. Alunos devem circular a única palavra ou frase que mais lhes chamou atenção. (Respeita o exausto/apático).

    2. Min 15-30 (Grupo Pequeno): Em trios (sem sair do lugar), alunos compartilham suas palavras e tentam definir o "sentimento" principal do Salmo em uma frase. (Atende o agitado/social).

    3. Min 30-45 (Coletivo/Aplicação): O professor usa o quadro para listar os "sentimentos" e faz a Micro-Lição Socrática (Estratégia 2), conectando o sentimento do Salmo ao "Check-in" Cognitivo do início da aula.

Estratégia 4: A Aplicação da "Reconciliação Mnemônica"

  • Problema: O aluno está preso em ruminações de culpa, injustiça ou medo (temas centrais em Jeremias e Salmos).

  • Técnica: O artigo "Compreensão e Reciclagem das Ruminações Mentais" propõe uma técnica de 8 passos . O professor pode usar uma versão simplificada como ferramenta de aplicação do texto bíblico.

  • Fundamentação: A técnica visa "reescrever a janela de memória killer para que passe a ser uma janela light".

  • Exemplo (Salmo de Arrependimento ou Lamento):

    1. Recordação (Passo 1): "Pense na 'memória killer' que está causando sua ruminação (culpa, ansiedade)."

    2. Visão Multifocal (Passo 2): "Como o texto bíblico (o Salmo) enxerga essa situação? Como Deus enxerga? Como a outra pessoa enxerga?"

    3. Maxifraternismo/Assistência (Passos 6 e 8): "Qual é o 'plano de ação' que o Salmo sugere? (Confessar, perdoar, esperar, agir)."

  • Resultado: A EBD deixa de ser uma aula sobre um texto antigo e se torna um laboratório para a "gestão de si" , usando a Bíblia como ferramenta para "reciclar" as angústias reais do aluno.

4. Considerações Finais

O diagnóstico de apatia e mau comportamento na EBD de jovens (15-25 anos) é frequentemente incompleto. A Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) e as "ruminações mentais" associadas são fatores pedagógicos cruciais, resultantes de uma "sociedade patologizante" baseada no excesso de informação.

O professor de EBD, mesmo restrito a recursos tradicionais, está posicionado de forma única. Ao adotar uma Pedagogia da Fragmentação Focada (PFF), ele para de lutar contra a mente ansiosa do aluno e passa a usar a estrutura da aula para gerenciá-la.

Ao "educar a emoção" e "desacelerar" o pensamento através de fragmentos socráticos e aplicação prática (como a Reconciliação Mnemônica ), o professor transforma a aula. O estudo de Jeremias ou Salmos deixa de ser uma causa de ansiedade (por tédio) e torna-se a própria ferramenta para lidar com a ansiedade da vida real, gerando engajamento profundo onde antes havia apenas apatia e agitação.

5. Referências

  • GARCIA, Adriano Fontoura. EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM AMBIENTES ESCOLARES: A SÍNDROME DO PENSAMENTO ACELERADO. 2017. 55 f.. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade do Vale do Rio dos Sinos , Porto Alegre, 2017.

    GUTH, Clarissa de Moraes; VEIT, Carlos Alberto. ANSIEDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO E SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO. Revista Educação, Psicologia e Interfaces , v. 3, n. 2, p. 57-68 , Maio/Agosto, 2019. DOI: https://doi.org/10.37444/issn-2594-5343.v3i2.139.

    MACHADO, Dimitrius Gonçalves. O indisciplinado patológico em Augusto Cury: uma análise da discursividade de autoajuda para educadores. Revista Heterotópica , v. 3, n. 2, jul.-dez. 2021.

    ULAF, Marcos. Compreensão e Reciclagem das Ruminações Mentais. Conscientia , v. 19, n. 4, p. 435-443 , out./dez., 2015.

O aluno problema e a SPA

A Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) é apresentada neste vídeo de forma a trazer entendimento sobre o que de fato é essa síndrome e a diferença entre SPA, TDAH e DDA, e como ela interfere no aprendizado em sala de aula.

SPA e EBD

Neste que é um resumo de nosso post, apresentamos as formas analógicas de ensino na EBD para fazer frente a alunos que enfrentam a SPA.